Descrição de Cargos
“As pessoas trabalham nas organizações através dos cargos que ocupam!”
por Cezar Antônio Tegon
Desenho do Cargo
Para a maioria das organizações, o cargo constitui a base da aplicação das pessoas nas tarefas organizacionais. Para a pessoa, o cargo constitui uma das maiores fontes de expectativas e de motivação na organização.
O conceito de cargo baseia-se nas noções de tarefa, atribuição e de função, ou seja:
A tarefa é toda atividade individualizada e executada por um ocupante de cargo.
A atribuição é toda atividade individualizada e executada por um ocupante de cargo.
A função é um conjunto de tarefas ou de atribuições exercido de maneira mais sistemática e reiterada por um ocupante de cargo.
O cargo é composto de todas as atividades desempenhadas por uma pessoa, que podem ser englobadas em um todo unificado e que ocupa uma posição na estrutura da organização. Para desempenhar suas atividades, a pessoa que ocupa um cargo deve ter uma posição definida. Dentro dessa concepção, um cargo constitui uma unidade da organização e consiste em um conjunto de deveres e responsabilidades que o tornam separado e distinto dos demais cargos.
Desenhar um cargo significa estabelecer quatro condições fundamentais:
O conjunto de tarefas ou atribuições que o ocupante deverá desempenhar (conteúdo do cargo);
Como esse conjunto de tarefas ou atribuições deverá ser desempenhado (métodos e processos de trabalho);
A quem o ocupante do cargo deverá reportar-se (responsabilidade), isto é, relação com sua chefia; e
Quem/ou o que o ocupante do cargo deverá supervisionar ou dirigir (autoridade).
O desenho de cargo é a especificação do conteúdo, dos métodos de trabalho e das relações com os demais cargos, no sentido de satisfazer os requisitos tecnológicos, organizacionais e sociais, bem como os requisitos pessoais de seu ocupante. Na realidade, o desenho de cargos representa o modo pelo qual os administradores projetam os cargos individuais e os combinam em unidades, departamentos e organizações.
Modelos de Desenho de Cargos
A partir da década de 60 começam a surgir os novos modelos de desenhos de cargos. Isso a partir de um grupo de cientistas de comportamento e alguns consultores de empresas que passaram a demonstrar que as antigas abordagens de desenho de cargos conduzem a resultados contrários aos objetivos organizacionais.
Modelo Clássico
Foi primariamente utilizado pelos engenheiros pioneiros que iniciaram o movimento da Administração Científica, no início do século XX. A Administração Científica baseava-se no princípio de que somente por meio de métodos científicos se poderia projetar cargos e treinar pessoas para se obter a máxima eficiência possível.
Esse modelo partia de vários pressupostos: o homem era tido como mero apêndice da máquina, um recursos produtivo. A tecnologia vinha antes e as pessoas depois. Esta tecnologia é que estabelecia base para condicionar o desenho de cargos. O trabalho era dividido e fragmentado em partes fracionadas, para que cada pessoa fizesse apenas uma subtarefa simples e repetitiva.
Além disso, o desenho clássico de cargos repousa na presunção da estabilidade a longo prazo do processo produtivo, isto é, o desenho de cargo é definitivo e feito para durar para sempre. Em nenhum momento se cogitava mudanças.
O modelo clássico de desenho de cargos visava projetar cargos dentro de uma lógica, ou seja, segmentar e fragmentar os cargos em tarefas simples, repetitivas e facilmente treináveis. Dentro dessa lógica fria e mecanista, o resultado sempre esperado era de máxima eficiência. Em decorrência disso, os lucros aumentarão para a organização e, em função dos incentivos salariais, os salários dos trabalhadores serão maiores.
O modelo clássico não localiza nenhum conflito básico entre as pessoas e a organização.
Modelo Contingencial
Esta abordagem, mais complexa, leva em conta duas favoráveis importantes: as diferenças individuais das pessoas e as tarefas envolvidas. Daí ser contingencial, pois decorre e depende da adequação do desenho de cargo a essas duas variáveis. Neste modelo, convergem três variáveis:
A estrutura da organização;
A tarefa; e
A pessoa que irá desempenhá-la.
No modelo contingencial, as prescrições quanto ao desenho do cargo não são baseadas na presunção de estabilidade e permanência dos objetivos e dos processos organizacionais. Por outro lado, é extremamente dinâmico e baseado na contínua ampliação do cargo através do enriquecimento de tarefas, como uma responsabilidade básica colocada nas mãos do gerente ou de sua equipe de trabalho. Dessa maneira, o desenho de cargos contingencial é mutável em conformidade com o desenvolvimento pessoal do ocupante e com o desenvolvimento tecnológico da tarefa.
O modelo contingencial supõe a utilização das capacidades de auto-direção e auto-controle das pessoas, e sobretudo, objetivos planejados conjuntamente entre o ocupante e o gerente para tornar o cargo um verdadeiro fator motivacional.
Embora exista uma diversidade nos padrões de satisfação no trabalho, sabe-se que a satisfação é um elemento dentro de uma rede de variáveis inter-relacionadas. Essa rede permite entender como os cargos influenciam as pessoas em sua motivação e desempenho.
Por meio de pesquisas foi identificado cinco dimensões essenciais de um cargo e verificou-se que, quanto mais um cargo tiver a característica representada por cada uma dessas dimensões, tanto maior será o seu potencial de satisfação.
Variedade - uso de uma diversidade de equipamentos e procedimentos para tornar o cargo menos repetitivo e menos monótono.
Autonomia - é o grau de independência e de critério pessoal que o ocupante tem para planejar e executar o trabalho.
Significado na Tarefa - é o reconhecimento que o cargo provoca nas pessoas.
Identidade com a tarefa - ocorre à medida que a pessoa executa um trabalho total e abrangente, cujo resultado final é um produto seu, uma realização sua, que lhe dá uma noção da totalidade, extensão e do objetivo a alcançar.
Retroação - é a informação de retorno sobre como está indo na sua atividade, a qual é proporcionada pelo próprio resultado de seu trabalho.
Essas cinco dimensões profundas criam condições para que o ocupante do cargo encontre satisfação intrínseca como resultado do cumprimento da tarefa que realiza.
Descrição e Análise de Cargos
Devido à divisão do trabalho e a conseqüente especialização funcional, as necessidades básicas de recursos humanos ( pessoas ) para a organização, tanto em quantidade, quanto em qualidade, são estabelecidas através de um esquema de descrições e especificações de cargos.
As descrições de cargos relacionam as tarefas, os deveres e as responsabilidades do cargo, enquanto as especificações de cargos se preocupam com os requisitos necessários ao ocupante.
A descrição de cargos é um processo que consiste em enumerar as tarefas ou atribuições que compõe um cargo e que o tornam distinto de todos os outros cargos existentes na organização. A descrição de cargos detalha o que o ocupante faz, quanto faz, como faz e por que faz. Em suma, a descrição de cargos está voltada para o conteúdo dos cargos, ou seja, com os aspectos intrínsecos dos cargos.
Feita a descrição, segue-se a análise do cargo. Embora intimamente relacionada em suas finalidades e no processamento de obtenção de dados com a descrição de cargos, a análise pretende estudar e determinar todos os requisitos qualificativos, as responsabilidades envolvidas e as condições exigidas pelo cargo, para seu desempenho adequado.
Geralmente, a análise de cargos concentra-se em quatro áreas de requisitos quase sempre aplicadas a qualquer tipo ou nível de cargo:
Requisitos mentais;
Requisitos físicos;
Responsabilidades envolvidas; e
Condições de trabalho.
Cada uma dessas áreas é dividida, geralmente, em vários fatores de especificações. Estes fatores, através de um tratamento estatístico, serão transformados em fatores de avaliação de cargos.
Abordada sob o ponto de vista de fatores de especificações, a análise de cargos pode ser montada dentro de um esquema de padronização que facilite sobre maneira a coleta de informações e permita uma base de comparações dentro e fora das organizações.
A descrição e análise de cargos é responsabilidade de linha (da área) e função de staff (área de Gestão de Pessoas), ou seja, a responsabilidade pelas informações prestadas é unicamente da linha, enquanto a prestação de serviços de obtenção e arranjo das informações é responsabilidade de staff.
Cezar Antônio Tegon